sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Jogadores da seleção desafiam os limites do corpo e jogam à base de analgésico





Não tem sido fácil suportar o calendário que praticamente emenda seleção brasileira, campeonatos estaduais e superliga. O tempo de descanso é mínimo.Para variar, quem sofre cada vez mais com as consequências são os jogadores.

     O uso de Voltaren 75 mg é constante e quase obrigatório entre a maioria dos atletas.

“Os veteranos não resistem, mas o que me chama atenção é o fato da molecada chegar no clube ‘estragada’da seleção e virar refém do Voltaren”.

O alerta é de um ex-jogador da seleção brasileira e que convive com o vôlei.

“Os treinos ainda podem ser administrados, mas sem o uso do medicamento não seria possível os caras jogarem na mesma intensidade”.



Murilo é um dos exemplos.

O jogador do Sesi sofre com dores no ombro, evita operar e não entra em quadra sem o uso de Voltaren.
Wallace, ex-jogador do Sesi, operou o ombro e voltou normalmente. Giba tem problema semelhante ao de Murilo e resistiu. Eleito melhor jogador do mundo em 2010, Murilo sabe que precisa operar, mas teme perder rendimento no futuro.



 
Sidão necessita dos mesmos cuidados no antebraço.

No RJX, Dante faz reforço nos joelhos, mas é outro que depende do remédio. Ficou 4 meses afsatado das quadras e precisa de um trabalho diferenciado.

Lucão essa semana fez importante exame para saber a gravidade da contusão na canela. Thiago Sens não está 100%.

Leandro Vissoto, no Ural Ufa da Rússia, e Henrique, no Minas, também precisam em momentos críticos de dor.

“Em dia de jogos eles tomam um comprimido a cada 8 horas. Sei disso porque pude conviver com isso durante anos da minha vida”, confirma o ex-atleta.

Wallace, revelação do vôlei brasileiro, está com 25 anos. Mas se quiser jogar por mais 10 anos terá que se cuidar:

“O Wallace é jovem, tem saúde, mas sofre muito com o ritmo dos treinos no clube e especialmente na seleção. É um crime treinar em aeroporto. Não existe limite e esse menino pode acabar estourando por dentro”, desabafa um profissional ligado ao Cruzeiro.

Embora o analgésico preencha todos os requisitos de uma substância dopante, a Wada, Agência Mundial Antidoping, diz que o Voltaren ainda não é condiserado doping.

A Fifa é contra esse procedimento para jogadores e médicos que não respeitam limites para mascarar a dor. Apesar do alerta, quase 40% dos jogadores que disputaram a Copa da África do Sul jogaram sob efeito de analgésicos.

“A prática não é ilegal, apenas acho que o uso regular de analgésicos é ruim e prejudicial aos atletas. A dor é sempre um sinal do corpo de que algo está errado. O risco de aumentar a lesão é enorme”, afirma o médico de um dos times favoritos ao título da superliga masculina.

Marcelo Negrão, campeão olímpico em 1992, sofreu com cirurgias ao longo dos 21 anos de carreira. O esgotamento do corpo alcançou Ronaldo Fenômeno.

Murilo, Vissoto, Lucão, Dante, entre tantos outros, demonstram profissionalismo, mas desafiam diariamente os limites do corpo.

A relação dos clubes com a seleção segue rigorsamente a mesma. Cada um protege seu lado e o atleta, aquele que decide e paga a conta, fica em segundo plano




Bruno Voloch